Skatistas pela Pitico Skatepark em Sorocaba/SP
Fui procurar saber de uma pista no interior de São Paulo a indicação de Douglas Pankrage, entrei em contato via o instagram da pista(link), onde como já sabia, era possível ver que ela estava em reforma.
Comecei a conversar com o skatista Fernando de Oliveira “Pirata“, skatista de 35 anos de Sorocaba, com 20 anos de skate no pé, e começamos a falar sobre a Pista do Pitico(Google Maps) e sobre a galera do Pitico Skate 2000, a galera que tem reformado o pico, foi ai que comecei a entender porque o Pankrage fazia questão que eu conhecesse o Fernando.
Segue abaixo nossa conversa:
Fale um pouco sobre esse pico para quem não conhece
O Pitico é uma skate park difícil já que foi construída no modelo dos anos 90 inspirado na pista montada de tampa dos anos 1994, o projeto foi iniciado em 1999 e ficou pronta em 2000, foi referência para época com campeonatos grandes como da Nike e também um grupo local chamado X4 gravou um clipe na pista de skate.
É uma pista considerada difícil por conta das rampas serem bem cravadas e altas o único caixote da pista tinha quase 60 cm de altura, então ou você aprendia ali a ter um pop alto ou você não conseguia andar.
A quanto tempo ele precisa de uma reforma? (se no caso estava abandonado, a quanto tempo)
Como a pista foi construída em 2000 e começamos a mexer em 2018 praticamente 18 anos aí sem qualquer manutenção, digo manutenção brava, uma pinturinha coisas poucas sempre teve mas conforme o tempo a pista foi só deteriorando e os praticantes foram deixando o local.
Em Sorocaba foram inauguradas outras pistas pequenas zoadas tudo daquele jeito público zuado.
Como rolou de vocês se juntarem para a reforma?
Eu sempre frequentei o Pitico, independente da situação. Os frequentadores eram bem poucos era mais eu e a minha crew, a ideia foi de um parceiro de reformar as trincas, começamos a reformar, e pegamos firme.
Logo no começo tinha uma galerinha mas logo depois foram desanimado e arrumando outros compromissos, mas eu continuei priorizando a pista de skate, e foi passando o tempo e acabei ficando quase sozinho nessa empreitada.
O poder público está ajudando? Vocês chegaram a procurar ajuda da prefeitura?
Essa pista de skate fica dentro de um centro esportivo e sabia que poderia dar problema de destruir patrimônio público, Sorocaba já tem um histórico sobre isso e pessoas que se deram mal tentando fazer o melhor para cidade, então começamos fazer a reforma em baixo dos panos porém tínhamos autorização verbal do funcionário responsável pelo centro esportivo.
Na pandemia eu tive que dar um tempo nas obras e em 2020 no final do ano pedi ajuda para a prefeitura, comecei a pedir ajuda para várias pessoas ligada ao esporte, secretaria do esporte e pessoas responsáveis dentro da prefeitura, não obtive ajuda, na verdade eles dificultaram ainda mais o meu trampo, e eu não fui autorizado a mexer na pista de skate.
Disseram para mim que não importavam da onde vem o dinheiro ou quem estava fazendo e eu tive de parar as obras e esperar o mandato do então prefeito acabar que ai vem outros secretários e prefeito.
Hoje, próximo ao término das obras todo mundo sabe da prefeitura não está lá dentro, todo mundo sabe que eu Fernando estou mexendo na pista de skate, mas ninguém tá nem aí não me ajuda, mas também não me atrapalha.
Quais as maiores dificuldades encontraram no começo?
No começo eu não encontrei tanta dificuldade tinha uma galera que agitava bastante dava bastante opinião, mas tirava um pouco o corpo fora.
Eu acho que a maior dificuldade, não vou falar em nome de todos porque infelizmente muitas pessoas me abandonaram nessa jornada, então eu falo em meu nome, a parte mais difícil que eu achei foi em uma época que estava muito difícil para mim, tava com muitas contas e tive que dar uma prioridade a essas contas pessoais e fiquei sem ir para a pista durante uns dois meses.
No período que ainda estava com uma galera atuando tinha também um pessoal que ia andar de bicicleta, a gente não ligava, os cara andavam de bicicleta no canto deles e a gente trabalhava em outros cantos, mas depois que eu fiquei dois meses sem ir para lá quando voltei todas as valas que eu tinha aberto, que deu muito mas muito trabalho para quebrar e abrir, os bikers tinha fechado de entulho sujeira para poder ficar jogando suas manobras.
Um parceiro meu que ainda estava ainda no trampo viu e expulsou os caras, a partir daí eu não deixo mais ninguém entrar de bike na pista, os caras atrasaram a reforma em meses.
Quem faz parte desta colaboração para a reforma?
Quando começou tinha uma galerinha igual eu falei, mas depois tiveram momentos, muitos meses que eu fiquei sozinho, sozinho mesmo, cheguei até a divulgar no Facebook que precisava de ajuda e nenhum skatista apareceu para me ajudar, aí cansei e comecei a pagar pessoas para me ajudar, Graças a Deus que apareceu um parceiro das antigas, aí na parte financeira ele me ajuda muito.
Pessoalmente, qual a sensação a cada trecho reformado?
Cara, é muita canseira muito trabalho, nossa senhora deu muito trabalho, é uma sensação boa olhar para trás e ver que deu certo, mas é muito cansativo é muito cansativo mesmo.
Qual o seu objetivo com esta reforma?
O meu objetivo, sempre vou falar nesse sentido, é fazer um campeonato grande para arrecadar dinheiro para poder ampliar outros Picos aqui em Sorocaba.
O que você tem a dizer para quem já pensou em fazer o mesmo com uma pista local?
Que não vai ser fácil, talvez seja o maior desafio da sua vida, porque foi o meu.
Para mim foi a reforma da pista do Pitico, as dificuldades que eu passei e tantas pessoas ingratas só criticando, que para ajudar mesmo assim é ninguém mesmo.
E ter amigos, mas amigos! Não colega ou companheiro, ter amigos, fechamentos 100%. Fechamento tem que conhecer muito bem os caras. Porque todo lugar e toda história que eu ouvi falar de reforma faça você mesmo teve abandono de companheiras e alguém teve que tomar frente e acabou se ferrando sozinho.
E tem que ter paciência também, muita força de vontade e perseverança, nem que seja engatinhando para frente, indo para frente, não importa a velocidade o importante é ir, nem que seja devagar, não tem que parar de ir para frente.
Para um brother que está neste corre como você, o que significa ser um skatista?
Para mim ser um skatista é ter atitudes, não só manobra, tem que ser uma pessoa humilde, firmeza, não dar mancada e não falar muito, mas fazer acontecer independente da dificuldade.
JORNAL LOCAL NOTICIA A REFORMA COMO DA PREFEITURA
“Recentemente quando eu tava dando um trampo aqui na pista apareceu um cara estranho tirou umas fotos, não falou nada e saiu fora. Um dia depois vejo uma matéria em um jornal local aqui falando que a pista estava abandonada, teve uma loja local em Sorocaba que compartilhou essa mentira.
Eu dou um trampo sempre que eu posso, quando eu saio mais cedo do trampo, quando eu tô de folga, eu sempre tô na pista de skate trampando.
Aí chega o jornal pega uma imagem da época da pandemia, que nem eu podia estar lá, tudo e todas as coisas estavam fechadas, pega uma imagem antiga e usa como se fosse atual, e isso acaba me prejudicando um pouco mas eu não tô nem aí! Bora lá finalizar essa obra!”
Observação: O jornal local entrou em contato com a prefeitura sobre a pista, a prefeitura não soube responder e perguntou ao Fernando, mas como as informações foram passadas pela prefeitura, o jornal acabou noticiando a reforma como da prefeitura.
A LEMBRANÇA
“Este homem é Francisco de Oliveira, ele é meu pai, depois que a rapaziada me abandonou, chegou o momento de começar a construir os obstáculos novos e eu não tinha ideia, não conhecia ninguém, aí chamei meu pai, meu pai foi e me ajudou a construir três obstáculos, mas ano passado ele descobriu que tinha câncer e morreu.”
Observação: Sinceramente, essa parte me pegou quando recebi e acho que o senhor Francisco de Oliveira merece ser lembrado, tanto por ter sido um grande pai, quanto pelo serviço prestado ao skate
Se o Fernando não nos fala sobre, talvez nunca teríamos ouvido falar dele. Descanse em paz senhor Francisco.
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