Quem não viu quando bombou o vídeo do Policial Skatista? Isso ai, o nome dele é Edson Munis, já foi conhecido como “Preto”, “Foguinho”, “Magaiver”, mas hoje é famoso pelo apelido de Policial Skatista, com seus 39 anos de idade e uns 25 anos de skate.
Trocamos uma ideia com ele, segue:
O que veio primeiro? A profissão de policial ou o life style de skatista?
Primeiro veio o Skateboard, 25 anos respirando skate e 12 anos na Instituição Polícia Militar SP, como muitos tive de largar o life style ativo por conta de problemas financeiros, família e saúde.
Como foi seu primeiro contato com o skate?
Foi aos 12 anos, vendo alguns adultos descendo a ladeira ao lado do meu bairro, aquilo me chamou a atenção, pelo fato de facilitar as minhas saídas do bairro (me tirando das vivências negativas, violência, drogas e criminalidade) para ir se aventurar no centro, onde conheci amigos que carrego em meu coração até hoje.
Quando decidiu virar policial e por quê?
Decidi me tornar um Policial Militar por vários motivos, mas o mais importante pra mim é, poder ajudar o próximo, até porque o papel principal do Policial Militar é, “servir e proteger”.
Nunca teve receio de qualquer tipo de repressão por parte dos skatistas ou mesmo da polícia?
Quando eu decidi prestar o concurso eu já fui ciente disso, até porque nada muda o que sou, minha personalidade, meus princípios. Sabia que eu iria sofrer preconceito dos dois lados, dentro dos quartéis e nas pistas. Mas eu sempre senti que havia uma missão pra mim, e a cumpri.
O skate e a polícia até certo tempo atrás eram como os opostos, como era lidar nessa época com esse relacionamento?
Como eu disse, comecei a andar de skate aos 12 anos, e na adolescência eu e meus brothers, a maioria deles meus irmãos até hoje, sofríamos muito como qualquer outro skatista querendo ser feliz na borda da loja do tio João, ou nas escadas das igrejas, enfim, todo skatista tá ligado como é. Vários enquadros, até perdi as contas(kkkkk), mas desde criança eu aprendi com o meu falecido pai “respeito é pra quem tem”, nunca fomos maltratados, fisicamente é claro(kkkkk), porque psicologicamente éramos torturados(kkkkkkkkkk) e nestes momentos da minha vida começou a se moldar o desejo de me tornar um Policial Militar, provar que independente da sua profissão, você pode ser quem você quiser.
Teve que lhe dar com muita zueira dos amigos? Quem era pior, os skatistas ou os policiais?
Irmão(kkkkkk) zueira de ambos os lados né(kkkkkk). Quando a zueira é sadia sem novidade, mas faltar com o respeito já é outras ideias né, a zueira eu entro no jogo e jogamos juntos(kkkkkkk) já a falta de respeito é olho no olho saca.
Uma curiosidade minha, dentro do skate ou da polícia, eles te davam apelidos?
O único apelido que iniciou e permaneceu até hoje foi o “Policial Skatista”.
E na hora do enquadro? Você aliviava com skatista ou metia um louco para manter a pose de policial?
Irmão, eu sempre tratei todo mundo da mesma forma, independente de quem seja, sempre tratei o próximo com o devido respeito. Sempre soube chegar para poder sair tá ligado? Já tive diversos atritos com parceiros devido a uma postura e conduta diferente tá ligado? Já cheguei discutir com parceiro de trampo porque eu não concordava com a abordagem, isso aconteceu diversas vezes, inclusive envolvendo skatistas. Agora se orientação, conscientização for passar o pano, eu fiz muito isso(kkkkkkkkk)
Acho que é a dúvida de muitos, assim, de verdade, frequentando as pistas, com certeza você já presenciou jovens bebendo ou mesmo o usando drogas, qual é sua reação nestes casos?
Irmão, infelizmente isso ocorre com frequência, não só jovens, mas marmanjos que deveriam orientar e cuidar do pico acabam azedando tudo, mas eu sempre fui muito flexível em relação a isso, procuro trocar ideia, orientar e conscientizar tá ligado.
Independente se estou sozinho ou no rolê com os brothers eu procuro orientar as pessoas que acabam confundindo liberdade com libertinagem tá ligado? Até porque o seu direto termina quando começa o meu ou o nosso(coletividade). Nada contra ninguém e seus hábitos tá ligado? Mas zuar o pico onde a coletividade tem acesso é foda, mas como eu disse, sempre na ideia se resolve tudo.
Outra coisa que com certeza já presenciou é o famoso rolê em locais proibidos, essa é a hora de repreender ou de fingir que não viu?
Irmão, a vida me ensinou tudo o que eu aplico hoje no meu dia a dia, fui criado nas ruas, bicho solto saca? Várias situações que aos olhos de uns caberia uma repreensão, pra mim a solução sempre vai ser a conscientização.
Então, uma hora veio uma “fama” por conta desse mix de skatista com policial, como você reagiu com tudo isso? Como ficou seu dia a dia nas pistas e no trampo?
Tudo o que rolou até aqui foi uma conquista de anos sofrendo preconceito, já aconteceu situações de eu encostar na pista pra fazer um rolê e 10 minutos depois eu ser o único ali batendo o tail, a maioria evitando aproximação, sem aquela vibe verdadeira de um acerto ou de manobras tá ligado?
Situações também de chegar nos quartéis pra assumir o trampo e outros Mikes(policiais) me olharem e agirem com preconceito em relação a minha pessoa, várias tretas com outros parceiros de trampos, por eu não concordar com a visão da maioria deles, taxando o skatistas de vagabundo, ladrões e drogados, isso me machucava muito e acabava gerando altas tretas no decorrer do plantão.
Hoje irmão a parada é diferente, não pelo ocorrido do vídeo que rolou e tal, mas pelo fato de eu poder colar numa pista pra andar e 10 minutos depois ela estar cheia e não vazia, diferente porque hoje eu entro dentro dos quartéis com o meu skate e ninguém me olha torto, pelo contrário, pegam na minha mão e me agradecem, me pedem pra ver skate para seus filhos, sobrinhos e até para o próprio policial.
O lance de trabalhar e ajudar projetos sociais já existia antes da “fama”, ou foi algo que veio com tudo isso?
O que eu mais aprendi com o skate foi esse poder de fazer o bem e ajudar o próximo(quem nunca salvou um amigo com uma bilha né?kkkkkk). Eu sempre acreditei que o skate transforma, inclui e contribui com a evolução dos jovens, sou prova viva disso, pois o skate me salvou, me fez ser quem eu sou hoje.
Os projetos vieram bem antes de tudo isso, já ministrei aulas de skate para crianças em Cerqueira César, onde chegamos atender 150 crianças no projeto “Skate Cidadão”, nesse mesmo projeto atendemos também os internos da fundação Casa do município.
O que mudou foi a facilidade de apresentar esse projeto em outros municípios, mas uma pena os gestores públicos ainda olharem para os projetos sociais como um péssimo investimento público. Muita coisa precisa mudar, criar novas políticas públicas que atenda realmente os jovens, e não os interesses de gestores. Hoje eu recebo vários convites para conhecer projetos sociais em andamento, e na moral? Eu amo isso irmão.
Como você enxerga o futuro para o skate e como você pretende fortalecer a cena?
Nos últimos anos o skate tem alcançado patamares que antes não imaginávamos, tem seres humanos com boas intenções e outras com intenções que não irão contribuir com a evolução do skate propriamente dita tá ligado. Quem é de verdade tem que estar ligeiro com os oportunistas. Acredito que o skate vai crescer e ganhar novos horizontes irmão. Eu quero acompanhar essa evolução, participar ativamente disso, principalmente dentro do nosso estado de SP, que no meu ponto de vista tem muito o que melhorar, muito a crescer e evoluir. Estarei sempre pronto as oportunidades que contribuam com essa evolução, crescimento em nosso estado, pois “eu sou skatista”.
Para finalizar, a perguntar sagrada do canal que é, para você, o que é ser um skatista?
Ser um skatista pra mim é ser quem eu sou, sou o que sou porque sou um Skatista.
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