Faala Cesinha Chaves
Escrito por: Marcelo Sanzoni(perfil Instagram)
Trocamos uma ideia com o mestre Cesinha Chaves, a lenda do skate de 67 anos, completados em julho, acho curioso destacar que quando questionado sobre seu tempo de skate a resposta foi “Dois momentos: 1º 1968, 2º 1974… explico melhor adiante”.
Cesinha além de um dos primeiros video makers do skate nacional, percursor do skate na televisão, e que ainda vivenciou a história do skate, desde seus primórdios até os dias de hoje.
Como foi seu começo com o skate?
Meu 1º contato com skate, não era skate ainda para a gente, surfistas do Arpoador, o que fazíamos era o Surfinho, que era um patins serrado ao meio, pregado numa tábua simulando um prancha de surf. A gente aquecia ali no asfalto do Arpoador, com batidinhas, uns cut backs, manobrinhas de surf style como chamávamos, e depois íamos pegar onda.
Através da revista Surfer Maganize, víamos uns anúncios de duas lojas que tinha skates expostos em anúncios de página dupla, a Val Surf e Kanoa Surf, duas lojas de surf.
Volta e meia rolava umas exibições de filmes de surf, e na maioria havia uma parte com skate.
Mas ainda estávamos longe de ter um skate de verdade, era só surfinho que rolava, o surf era mais importante para os da minha geração.
Eu até dei sorte e consegui ter um Nash Side Walk Surfboard, com clay wheels, que consegui com um americano no Forte São João na Urca, onde fins de semana os americanos do Consulado iam, lembro de ter pago 13 cruzeiros e meu cinto, que o moleque gostou e queria no rolo.
Depois de algum tempo comecei a frequentar Saquarema, para pegar onda lá, cheguei a morar lá um ano e pouco.
No embalo ia conseguindo uns skates hang ten aqui e ali, já com rodas cadillac, mas o problema era que volta meia perdia uma bilha e o skate ficava encostado, até bater aquela vontade de andar e ter de ir comprar bilhas nas lojas de bicicleta!
Mas foi em 1975 que tive contato com um skate de verdade, através do meu amigo Dado Cartolano, que havia chegado recentemente da América e trouxe um skate com Tracker Trucks e Road Riders COM ROLAMENTO! Depois ele lançou no Brasil o Vórtex copiando esse skate.
Além do skate ele trouxe duas revistas Skateboarder Magazine, a Volume 2 nº 1 e a Volume 2 nº 3, na primeira, tinha o Greg Weaver descalço numa parede reta em uma piscina!!! $@%*&!!! E na outra o Dado me mostrou uma parte da revista chamada SKATEPARKS!
Daí para frente a vontade de me dedicar ao skate cada vez mais só aumentou, montei a Surfcraft em 1976, com um puta equipe, basicamente voltada para o freestyle, que era o skate de então, e no mesmo ano conheci a pista de Skate de Nova Iguaçu!
Esse foi o golpe final!
Voltei de Saquarema para o Rio e entrei no skate de cabeça, o resto é História.
Quando começou o lance de filmar? Foi um lance informal ou já previa os vídeos de skate como sendo um “lance”?
Em 1983 entrei no Programa Realce, na TV Record, apresentado pelo Antônio Ricardo, Patrícia Barros e Ricardo Bocão, na função de produtor musical, substituindo o amigo e também Skatista Robertinho, que havia sido convocado para servir ao exército.
Eu morei na California em 1980/1981, época que já estava explodindo o punk rock e a new wave.
Voltei ao Brasil com bastante conhecimento musical que adquiri lá pela rádio KRO-Q e pelas bandas que vi ao vivo, assim preenchi a vaga do Robertinho na boa.
No início eu colocava as músicas de BG, depois comecei a frequentar as gravadoras na busca de vídeo clips, lembra que ainda não existia MTV ou programas para jovens.
Até que um dia botei a mão no 1º VHS de skate que eu vi, Skateboarding in the 80’s, o 1º video da Powell Peralta, esse vídeo me influenciou muito, e comecei a comprar a revista Video News, que abordava direto o tal VHS – Video Home System, para aprender mais sobre o assunto.
Em 1983, com Câmera e gravador de VHS acoplado emprestado do meu irmão, produzi meu 1º vídeo de skate gravado em Guaratinguetá, o 1º video de Skate Brasileiro!
Depois comecei a produzir mais vídeos, e comecei a comprar câmeras, o que me deu uma enorme liberdade para gravar. Passei pelo VHS, 8mm, Hi8mm e Mini DV, e “ganhei” o Vibração, um programa diário de meia hora enquanto o Realce rolava aos Sábados, sempre às 18h.
Qual seu trabalho mais importante?
Foi um trabalho que me trouxe uma grande satisfação e compensação emocional, a série Pool Sessions, que fiz para o Sportv, uma série de 4 episódios, cada um com 4 piscinas diferentes!
Andei em muitas piscinas e acompanhei grandes mestres como Tony Alva, Salba, Darrel Delgado, Ricky Styles, Rob Slob, Toby Burger, entre outros.
E o mais marcante?
Fora do mundo do vídeo o mais marcante para mim for tido a oportunidade de trabalhar no Marina Del Rey Skatepark! Era com se eu estivesse dentro de umas das edições da Skateboarder Magazine!
Foi uma época que guardo com afeto na memória!
Lá fiquei amigo do Christian Hosoi, ainda molequinho, com 12 anos de idade então, do seu pai, Ivan Hosoi, Pat Ngoho e até Shugo Kubo – nós trabalhávamos juntos na pista.
Hoje seu site conta com quantos vídeos?
São 96 vídeos, o mais recente estreou dia 22 de setembro, faço um episódio a cada 15 dias.
E seu arquivo pessoal, quantos vídeos?
Não tenho como precisar! Tenho quase uns 300 DVDs já ripados para Digital, que dá um total de por volta de 170Gb.
Existe algum exclusivo guardado na sua casa que ainda o grande público não teve acesso?
Sim! Tenho MUITO material arquivado! Se parar para decupar tudo, certamente vou pirar! Vou mexendo nos arquivos aos poucos.
Na sua trajetória, hoje você mudaria algo?
Sim! Procuraria de alguma forma manter um vínculo empregatício com os locais onde trabalhei, quase sempre de maneira informal. Tive de abrir uma firma para poder ser contratado como prestador de serviços a terceiros, e como não entendia como funcionava o sistema, deixaram de contribuir com o INSS, assim como eu tb o fiz.
Depois de mais de 30 anos de TV, fui dispensado e sai abanando com uma mão na frente e outra atrás!
Por isso recomendo a todos, que se formalizem, seja através de criação de firma ou MEI, e recolham o INSS de vocês! Isso fará uma grande diferença no futuro de vocês!
Tem alguma dica para a molecada que está começando a gravar e pensa em se especializar?
Gravem muito! Experimentem bastante, assistam a filmes dos mestres da direção e fotografia, e estude sobre áudio visual, bom enquadramento e composição são essenciais!
Se liguem na trilha de áudio e usem sempre o som ambiente também, se forem colocar música.
Uma dica boa de editor chato(eu) é quando for cortar um trecho de vídeo para editar em outro,
mantenha as trilhas de áudio separadas das de vídeo.
É comum de você ver vídeos só com manobras e os áudios cortados sem atenuação, como um “uhooo epa” que cortam logo antes do final do áudio e passa a ser um tipo “uhg….” Fica feio, você não vê mas sente, e passa uma sensação ruim. Só quem manja da navalha é que faz! Veja em filmes, as vezes o áudio começa antes da imagem ou acaba depois.
Com as trilhas separadas você pode adentrar o áudio no vídeo seguinte, atenuando na entrada ou saída. Se não é o que eu chamo de cortar com machado!!!
Atualmente rolou nas redes sociais um alvoroço após você postar que estava procurando emprego, como isso impacta você? De alguma forma, você acha que a cena nacional poderia abraçar um pouco melhor seus ícones históricos?
Ainda estou na busca de emprego(s) ou trabalho(s). Depois de mais de 30 anos de skate na TV, ficar fora do skate de uma hora para outra foi uma pílula difícil para engolir! Passei um tempo só no lamento, quase na depressão, mas com o tempo conseguir superar.
Sem dúvida acho que deveria haver algum tipo de função para os skatistas de raiz, assim como eu, tem o Cesar Gyrão, Guto Jimenez, Paulo Anshowinhas, que mal têm conseguido uma entrada aqui e ali no mundo do skate atual!
Você de alguma forma teme pelo futuro do skate?
Já vi o skate morrer pelo menos umas 4 vezes! Essa retomada, um estilingada dada pelas Olimpíadas, veio com força, creio que deva vingar por mais tempo dessa vez.
O que está achando deste novo momento com o skate olímpico?
Vejo um novo padrão se formando em torno do skate, o skate família, que agora conta com o apoio dos pais e mães, algo que não se pensava ser possível na época do Skate “Marginal”!
Com toda sua vivência, o que significa ser um skatista para você?
Estou sem andar desde o dia 17 de Fevereiro de 2017, tive um VHC (hepatite C) e em seguida fiz uma cirurgia na coluna e no quadril, que estava 11º fora do eixo! Depois da cirurgia até tentei uns mini carvings, mas além da idade avançada, estou meio torto e sem equilíbrio!
Sofri muito para aceitar que não andaria mais de skate, mas já superei. Creio que meu tempo em cima do skate já tenha sido suficiente!
Skate me moldou, como pensar, meditar, agir e reagir, minha índole veio do skate, posso afirmar!
Ser skatista para mim é ser o que sou graças a tudo que vivenciei e aprendi nesses anos de skate!
Contatos de Cesinha Chaves
Instagram: @cesinhachaves
Instagram Chave Mestra: @chavemestravideos
Youtube: Chave Mestra Vídeos
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Muito bacana a matéria!! Cesinha é um ícone, uma lenda viva do Skate!!! Desde o meu começo no skate, no fim dos anos 80 acompanho seus programas e recentemente tive o prazer de entrevista-lo pelo Programa 4 Rodinhas, pela Rádio 4 Tempos, em Brasília!! Um salve pra todos!!!
Lenda em cima do skate e bastidores e nosso mercado tão rico como está! Não dar o valor que merece …
Triste…😪